Como o prometido é devido, cá estou eu para vos dar conta de mais uma leitura, desta feita o livro de estreia na prosa de Afonso Reis Cabral, mais propriamente no romance. O título não poderia ser melhor espelho da obra, de facto a narrativa foca-se na relação destes dois irmãos: o narrador e Miguel, este último com Síndrome de Down. A deficiência de Miguel leva o leitor a mergulhar num mundo, para muitos, um pouco desconhecido: a realidade da vida quotidiana de uma pessoa portadora de deficiência, mas, que acima de tudo é um ser humano, com os seus sentimentos e idiossincrasias. Esse é um dos motivos pelos quais o livro é um pouco "pesado", diria eu. No entanto, para isso, também contribui o facto de o narrador ser uma pessoa com uma personalidade muito própria e com a qual me foi um pouco difícil simpatizar. A acção principal desenrola-se numa aldeia do interior de Portugal e quase tudo aquilo que vamos sabendo sobre o passado nos é dito por analepses, onde são descritos episódios desde a infância de ambos até ao culminar dos acontecimentos passados com o presente.
Eu sou da opinião de que a base de um bom livro é sempre uma boa escrita e esse requisito está cumprido neste livro. Porém, no que toca à acção propriamente dita, dei por mim a pensar várias vezes que se tratava de uma narrativa com bastantes momentos um pouco mais parados, talvez isso também se deva ao facto de muitas vezes o narrador introduzir alguns excertos a que eu chamaria "voz da consciência". Para resumir, digo-vos que o balanço é positivo e que, se o autor continuar a presentear-nos com mais livros, há uma grande probabilidade de evolução.
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